
COMO DESTRUIR UMA CIDADE – DO PRESENTE AO PASSADO – A atualidade difícil. (foto: desatando os nós)
I – Um horizonte teórico
Como o próprio título indica e sugere é possível tratar este assunto falando do presente e, também, elaborar um ensaio de como a cidade foi sendo destruída ao longo do tempo, na seção DO PASSADO AO PRESENTE. Dessa maneira, os vários momentos vão se encontrando, demonstrando como aquilo que ocorreu poderia ter tido outro futuro se determinadas condições não tivessem sido destruídas.
Embora o tema tenha uma abrangência universal uma vez que inseridos no processo da economia política do capitalismo, as semelhanças acontecem. Portanto, para exemplificar, tomar-se-á como estudo de caso a cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo. As explicações virão ao longo do ensaio.
Retomando ao tema, sempre que usarmos a palavra cidade devemos lembrar que esse conceito possui uma área urbana e uma área rural. Daí que, destruir uma cidade envolve compreender ambas as áreas. É óbvio que a palavra cidade é vulgarizada no palavreado corriqueiro.
Para destruir uma cidade é preciso, também, saber como ela foi construída. Por isso este ensaio busca analisar o assunto baseado nesses dois momentos: do presente ao passado; e do passado ao presente; apresentados em inserções numeradas.
Pode parecer certa petulância achar que sozinho sou sabedor desse segredo, e que ninguém mais sabe disso. Ocorre que cada um pode fazer suas análises sobre esse título e divulga-las, e muitos já o fizeram. Todos têm o direito de tentar tratar do tema e oferecer aos demais reflexões sobre o tema. Por outro lado, há muito boa literatura científica que pode embasar estudos sobe as cidades.
Quando utilizamos a palavra “destruir” estamos falando de algo que tem um efeito devastador e que dificilmente poderá ser reconstruído. Pode-se até colocar outra coisa no lugar do que foi destruído, porém, jamais com as mesmas características evolutivas que vinha norteando a cidade, que vinha caminhando num ritmo em que as pessoas podiam ser felizes com esse desenvolvimento. Será? Há perguntas, contudo, que devem ser feitas. Houve um momento em que tudo foi bem construído, para se reclamar que a cidade está sendo destruída? Ou, como destruir uma cidade? Inúmeras coisas são destruídas, de forma que aquilo que tinha uma identidade jamais voltará a ter. Isso não significa que novas pessoas ou o uso do espaço ou mesmo novas tecnologias não possam ser incorporadas. Ocorre que não se pergunta a que preço isso se impõe. Principalmente quando não se discute aquilo que já estava existindo e não se pergunta em direção a que progresso a comunidade existente quer caminhar, ou melhor, aceita caminhar. Tudo que é novo traz a destruição do que é velho, mas tudo tem um preço. Pergunta: quem determina esse “preço”? Deve-se considerar, ainda, que a destruição pode representar o apagamento da história.
Outra forma de colocar o problema diz respeito à destruição daquilo que poderia ter sido realizado e que dependendo das condições tomadas no presente, jamais poderão ser realizadas, uma vez que a ruptura histórica não permitirá mais. São as “utopias”.
Por sua vez, destruir uma cidade envolve analisar o bem estar da população. A urbanização tem tudo a ver com esse tema. Por isso mesmo, há muitas perguntas a serem feitas e os cientistas tentam explica-las. O fenômeno da destruição não ocorre num único local, mas se estende por todo o país, devido principalmente, apesar das diferenças municipais e regionais, estar inserido entre as características de semelhança uma vez que todos os lugares estão no âmbito do desenvolvimento capitalista. A destruição não atinge apenas aquilo que foi construído pelo homem, mas, também, pela natureza.
Observem-se as palavras de Milton Santos:
“Como se define, hoje, a urbanização brasileira? Alcançamos, neste século, a urbanização da sociedade e a urbanização do território, depois de longo período de urbanização social e territorialmente seletiva. Depois de ser litorânea (antes e mesmo depois da mecanização do território), a urbanização brasileira tornou-se praticamente generalizada a partir do terceiro terço do século XX, evolução quase contemporânea da fase atual da macrourbanização e metropolitização.” (1)
Este texto de Milton Santos foi
extraído da publicação “A Urbanização Brasileira”, publicado pela Edusp de
2023. Trata-se de um estudo profundo, que completa outros estudos,
evidentemente dentro de uma vasta obra deste que é um dos maiores geógrafos,
reconhecido em todo mundo. Vamos explorar um pouco mais essa sua linha de
trabalho tentando embasar o que estamos propondo aqui.
“O turbilhão demográfico e a terciarização são fatos notáveis. A urbanização se avoluma e a residência dos trabalhadores agrícolas é cada vez mais urbana. Mais que a separação tradicional entre um Brasil urbano e um Brasil rural, há, hoje, no país, uma verdadeira distinção entre um Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um Brasil agrícola (incluindo áreas urbanas). No primeiro, os nexos essenciais devem-se sobretudo, a atividades de relação complexas e, no segundo, a atividades mais diretamente produtivas.” (2)
Portanto, tomando como pano de fundo a obra desse autor, ficará mais fácil encarar esse tema. Ao mesmo tempo, vai-se encontrando uma vasta bibliografia sobe o assunto que irá sendo citada.
(1) Santos, Milton. A urbanização brasileira. 5ª edição, 6ª reimpressão. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2023. P.09
(2) Ibid. p.09
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